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3 de fevereiro de 2014

Antom Santos: “O nosso repto é resistir, aproveitar o tempo ao máximo e sair à rua como militantes galegos”



Reproduzimos a continuaçom a entrevista feita para o Organismo Popular Anti-repressivoCeivar do preso independentista galego Antom Santos.

Antom Santos foi separado da sua contorna vital em Dezembro de 2011. Destacado historiador, investigador e docente. As pessoas que o conhecem sabem da sua implicaçom como militante nos movimentos populares mas também da sua grandeza humana. Em junho de 2012 foi condenado a 10 anos de cadeia por “participaçom em organizaçom terrorista” e “falsificaçom documental”, desde entom permanece na prisom de Aranjuez (Madrid) a 700 quilómetros da sua morada.


Durante o juízo do 24 de Junho, a estratégia da Fiscalia e do juiz Guevara provocou o protesto da vossa Defesa, qual foi a tua percepçom?

Antes de fixar-me nos aspectos formais, por escandalosos que foram, cumpriria reparar no que se topa por baixo daquele espectáculo.

Nom é novidade assinalar que, desde há décadas, o Estado tem entre as suas preocupaçons o que chama “independentismo radical” e que nós conhecemos como independentismo revolucionário. Trabalhou-se persistentemente e desde várias frentes para bani-lo do mapa galego ou, quanto menos, por reduzi-lo à mínima expressom.

Houvo e há umha linha de intervençom consistente em fazer da militância pública e legal “umha actividade de risco” atrancada polo acosso policial, as sançons económicas, a espionagem e a ameaça; outra linha mediática baseada em silenciar toda a dinámica político-social arredista e em publicitar a prática das sabotagens abstraendo-as do contexto e causas que as geram.

Finalmente pujo-se em andamento umha estratégia judicial rumada a encarcerar militantes, privando ao movimento de braços, e de passagem, advertindo a toda a base social: “eis os riscos de trabalhar nessa linha política”.

Dado que condenas anteriores nom fôrom abondo para desactivar o Movimento, o Estado ensaia agora umha prisom severa aproveitando-se do molde jurídico com o que se combateu durante décadas várias organizaçons armadas. “A ver se assim vai” pensam.

Devido a que o juízo foi televisado e acadou certa dimensom pública, os jeitos explícitos e anti-democráticos e despóticos do Tribunal surpeenderom muito. Porém dado que este é um poder despótico e treinado no abuso desde os seus chanços inferiores, a militância tampouco deve abraiar-se porque isto se dea nas mais altas instâncias. Estas elites construírom a sua hegemonia com este fundo e talante e reagirám assim ante qualquer foco rebelde.

Qual achas que é o objetivo de manter-te tantos anos preso?

Fundamentalmente exemplarizante. Um aviso a todas as pessoas dispostas a um compromisso profundo com o País, enviando-lhe esta mensagem: “o vosso futuro é a cadeia”.

Ademais como a prisom é umha maquinária de destruiçom e envilecimento humano, o Estado tentará danar-nos irremediavelmente, procurando a nossa derrota pessoal e política. Se saimos como farrapos debilitados, sem rumo, ésse seria um dos maiores triunfos do Poder, que se engrandece ao dobregar aos seus inimigos. O nosso repto é resistir, aproveitar o tempo ao máximo e sair á rua como militantes galegos.

Tem-se dito de vós que sodes “terroristas” sem embargo esta nom é a percepçom real da sociedade galega, que pensas disto?

Nom me atrevo a fazer juízos muito precisos da dinámica da rua porque me faltam dados e cercania. Há nestes momentos novos elementos positivos na reacçom social à repressom? Polo que vou lendo na imprensa soberanista semelha que sim há organizaçons que noutra hora calavam ante a repressom e a vulneraçom de direitos e que hoje superam o tabú do “anti-terrorismo” o que é um passo á frente inesperado.

Também é possível que, ante o piornamento geral das condiçons de vida e a deslegitimaçom social da casta política, da Banca, da Monarquia etc vaia perdendo apoios o entramado repressivo e a legislaçom da excepçom. Seria umha possibilidade lógica mas nom sei se as cousas derivarám nessa direcçom.

Logo, a esperança nom nos deve levar nunca a abandonar o realismo: o sistema penitenciário da Audiência Nacional, com toda a moreia de atropelos que cometem, pervivem por contarem com um amplo consenso social blindado com apoios políticos e mediáticos poderosos. Por isso ás rebeldes e revolucionárias nom nos aguarda um caminho de rosas.

Que comentário che merece que com o auto de Banda Armada qualquer pessoa ou organizaçom solidária poda ser acusada de colaboraçom?

Assistimos à persecuçom e ilegalizaçom de várias organizaçons populares – nom armadas- ao longo da última década. Sem ir mais longe, cidadania galega pola sua mera pertença ao PCE(r) pagarom sérias condenas de prisom. Democracia? Para o Estado há democracia quando e com quem interessa. Fóra desse terreno, impunidade.

Nada nos pode surpreender. No caso galego, e desde há quase umha década (Operaçom Castinheiras), a repressom maneja essa possibilidade de persecuçom legal da política - a ilegal já existe-  como ferramenta psicológica de desmobilizaçom e apaciguamento. Por agora, é o que há. Em negum caso devemos converter umha serena alerta em alarma e especulaçom porque isso é o que os repressores procuram.

Como se tem manifestado a solidaridade ante a repressom?

Só podo falar intra-muros pois cá nom dispomos dumha percepçom cabal do que acontece fóra (essa é umha das intençons da dispersom do régime FIES). Nos primeiros dias de cadeia nunca contei com que recebêssemos tal quantidade de calor política e humana; cartas e postais de gentes muito diversas que ainda hoje nom param de chegar e também um esforço económico e militante descomunal para superar os 700 quilómetros de separaçom com a Terra e fazer possível essas visitas de 40 minutos com um vidro por meio. Umha atitude tam meritória nom precisa de comentários, abonda com faze-la constar.

Durante as visitas com as/os familiares e amigas/os assim como nas cartas sempre transmitides a vossa enteireza e firmeza, qual é o vosso papel namentres vos mantenhem presos?

Na cadeia, ao contrário que na rua, as vacilaçons ou zonas grises nom som possíveis. A enteireza, além dumha opçom moral, é o recurso primeiro para a sobrevivência. A cadeia procura a inactividade do preso, o seu sentimento de rebaixamento e passividade irremediável. Isto leva ao embrutecimento e de ai passa-se aginha à toxicomania, à depressom e às desordens mentais dado que para o militante umha parte do sentido da vida se acha no seu contributo a umha causa, a pervivência dos vencelhos sociais e políticos.

Para estarmos efeitivamente inteiros cumpre mantermos esses contributos em forma de grauzinhos de areia ao nosso Movimento: manualidades, debuxos, ensaios, cartas, criaçom... todo aquelo que cada um desenvolver com a sua vontade. De maneira que a conservaçom da saude e da actividade satisfatória venhem alimentar – claro é que modestamente- a vida do independentismo na Terra.

Como cada pessoa é um mundo, nom há receitários universais que sirvam para roubar-lhe tempo à cadeia e aturar com firmeza umha condena longa. Há duas atitudes, porém, que sempre estám presentes na rotina de todo preso político: a disciplina e a paciência. Com elas podemos encarar adversidades e afrontar umha luita de tam longo percorrido como a que escolhemos.

Como relacionarias as luitas de hoje em dia com a História mais recente da Galiza?

Quiçá tenhamos que ir a tempos mais recuados para entendermo-nos a nós mesmas: fazemos parte dumha empresa colectiva que tem mais de 150 anos de vida, que começou em pequenos gromos activistas-intelectuais para encarnar-se mais adiante num Movimento Popular em favor dos direitos nacionais galegos. É sabido que, polo menos, nos últimos 50 anos, este propósito de afirmaçom nacional já se vencelha explícita e indefectivelmente com umha vontade de transformaçom radical da sociedade num sentido de esquerdas. Somos filhos dessa longa tradiçom.

Também é centenária a cerraçom espanhola, a determinaçom por negar os direitos nacionais e sociais baixo diferenes regimes políticos. Por isso o arredismo, desde as suas origens, negou-se a aceitar as regras de jogo do poder espanhol e manifestou a legitimidade de todas as formas de luita. Na preguerra isto está presente no independentismo de além mar e nas mocidades nacionalistas, mas a fraqueza política nom permite ir mais lá das declaraçons de intençons. É nos últimos quarenta anos quando o Movimento adquire uma certa dimensom popular, quando a prática de ultrapassar a legalidade espanhola motiva umha severa resposta repressiva. Eis a existência de presos e presas políticas

Algo mais para engadir

O meu agradecimento e reconhecimento a todas aquelas pessoas que racham os muros da dispersom com o carteiro ou com tremendas viagens, roubando tempo ao sono e ao lazer.

Agradecimento e reconhecimento que cumpre extender a aqueles que, desde a afinidade ou a divergência política, luitam polos nossos direitos exponhendo-se às moléstias e entraves repressivos que todas conhecemos.

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