Reproduzimos
a continuaçom a entrevista feita para o Organismo Popular Anti-repressivoCeivar do preso independentista galego Antom Santos.
Antom Santos
foi separado da sua contorna vital em Dezembro de 2011. Destacado historiador,
investigador e docente. As pessoas que o conhecem sabem da sua implicaçom como
militante nos movimentos populares mas também da sua grandeza humana. Em junho
de 2012 foi condenado a 10 anos de cadeia por “participaçom em organizaçom
terrorista” e “falsificaçom documental”, desde entom permanece na prisom de
Aranjuez (Madrid) a 700 quilómetros da sua morada.
Durante o
juízo do 24 de Junho, a estratégia da Fiscalia e do juiz Guevara provocou o
protesto da vossa Defesa, qual foi a tua percepçom?
Antes de
fixar-me nos aspectos formais, por escandalosos que foram, cumpriria reparar no
que se topa por baixo daquele espectáculo.
Nom é
novidade assinalar que, desde há décadas, o Estado tem entre as suas
preocupaçons o que chama “independentismo radical” e que nós conhecemos como
independentismo revolucionário. Trabalhou-se persistentemente e desde várias
frentes para bani-lo do mapa galego ou, quanto menos, por reduzi-lo à mínima
expressom.
Houvo e há
umha linha de intervençom consistente em fazer da militância pública e legal
“umha actividade de risco” atrancada polo acosso policial, as sançons
económicas, a espionagem e a ameaça; outra linha mediática baseada em silenciar
toda a dinámica político-social arredista e em publicitar a prática das
sabotagens abstraendo-as do contexto e causas que as geram.
Finalmente
pujo-se em andamento umha estratégia judicial rumada a encarcerar militantes,
privando ao movimento de braços, e de passagem, advertindo a toda a base
social: “eis os riscos de trabalhar nessa linha política”.
Dado que
condenas anteriores nom fôrom abondo para desactivar o Movimento, o Estado
ensaia agora umha prisom severa aproveitando-se do molde jurídico com o que se
combateu durante décadas várias organizaçons armadas. “A ver se assim vai”
pensam.
Devido a que
o juízo foi televisado e acadou certa dimensom pública, os jeitos explícitos e
anti-democráticos e despóticos do Tribunal surpeenderom muito. Porém dado que
este é um poder despótico e treinado no abuso desde os seus chanços inferiores,
a militância tampouco deve abraiar-se porque isto se dea nas mais altas
instâncias. Estas elites construírom a sua hegemonia com este fundo e talante e
reagirám assim ante qualquer foco rebelde.
Qual achas
que é o objetivo de manter-te tantos anos preso?
Fundamentalmente
exemplarizante. Um aviso a todas as pessoas dispostas a um compromisso profundo
com o País, enviando-lhe esta mensagem: “o vosso futuro é a cadeia”.
Ademais como
a prisom é umha maquinária de destruiçom e envilecimento humano, o Estado
tentará danar-nos irremediavelmente, procurando a nossa derrota pessoal e
política. Se saimos como farrapos debilitados, sem rumo, ésse seria um dos
maiores triunfos do Poder, que se engrandece ao dobregar aos seus inimigos. O
nosso repto é resistir, aproveitar o tempo ao máximo e sair á rua como
militantes galegos.
Tem-se dito
de vós que sodes “terroristas” sem embargo esta nom é a percepçom real da
sociedade galega, que pensas disto?
Nom me
atrevo a fazer juízos muito precisos da dinámica da rua porque me faltam dados
e cercania. Há nestes momentos novos elementos positivos na reacçom social à
repressom? Polo que vou lendo na imprensa soberanista semelha que sim há
organizaçons que noutra hora calavam ante a repressom e a vulneraçom de direitos
e que hoje superam o tabú do “anti-terrorismo” o que é um passo á frente
inesperado.
Também é
possível que, ante o piornamento geral das condiçons de vida e a deslegitimaçom
social da casta política, da Banca, da Monarquia etc vaia perdendo apoios o
entramado repressivo e a legislaçom da excepçom. Seria umha possibilidade
lógica mas nom sei se as cousas derivarám nessa direcçom.
Logo, a
esperança nom nos deve levar nunca a abandonar o realismo: o sistema
penitenciário da Audiência Nacional, com toda a moreia de atropelos que
cometem, pervivem por contarem com um amplo consenso social blindado com apoios
políticos e mediáticos poderosos. Por isso ás rebeldes e revolucionárias nom
nos aguarda um caminho de rosas.
Que
comentário che merece que com o auto de Banda Armada qualquer pessoa ou
organizaçom solidária poda ser acusada de colaboraçom?
Assistimos à
persecuçom e ilegalizaçom de várias organizaçons populares – nom armadas- ao
longo da última década. Sem ir mais longe, cidadania galega pola sua mera
pertença ao PCE(r) pagarom sérias condenas de prisom. Democracia? Para o Estado
há democracia quando e com quem interessa. Fóra desse terreno, impunidade.
Nada nos
pode surpreender. No caso galego, e desde há quase umha década (Operaçom
Castinheiras), a repressom maneja essa possibilidade de persecuçom legal da
política - a ilegal já existe- como ferramenta psicológica de
desmobilizaçom e apaciguamento. Por agora, é o que há. Em negum caso devemos
converter umha serena alerta em alarma e especulaçom porque isso é o que os
repressores procuram.
Como se tem
manifestado a solidaridade ante a repressom?
Só podo
falar intra-muros pois cá nom dispomos dumha percepçom cabal do que acontece
fóra (essa é umha das intençons da dispersom do régime FIES). Nos primeiros
dias de cadeia nunca contei com que recebêssemos tal quantidade de calor
política e humana; cartas e postais de gentes muito diversas que ainda hoje nom
param de chegar e também um esforço económico e militante descomunal para
superar os 700 quilómetros de separaçom com a Terra e fazer possível essas
visitas de 40 minutos com um vidro por meio. Umha atitude tam meritória nom
precisa de comentários, abonda com faze-la constar.
Durante as
visitas com as/os familiares e amigas/os assim como nas cartas sempre transmitides
a vossa enteireza e firmeza, qual é o vosso papel namentres vos mantenhem
presos?
Na cadeia,
ao contrário que na rua, as vacilaçons ou zonas grises nom som possíveis. A
enteireza, além dumha opçom moral, é o recurso primeiro para a sobrevivência. A
cadeia procura a inactividade do preso, o seu sentimento de rebaixamento e
passividade irremediável. Isto leva ao embrutecimento e de ai passa-se aginha à
toxicomania, à depressom e às desordens mentais dado que para o militante umha
parte do sentido da vida se acha no seu contributo a umha causa, a pervivência
dos vencelhos sociais e políticos.
Para
estarmos efeitivamente inteiros cumpre mantermos esses contributos em forma de
grauzinhos de areia ao nosso Movimento: manualidades, debuxos, ensaios, cartas,
criaçom... todo aquelo que cada um desenvolver com a sua vontade. De maneira
que a conservaçom da saude e da actividade satisfatória venhem alimentar –
claro é que modestamente- a vida do independentismo na Terra.
Como cada
pessoa é um mundo, nom há receitários universais que sirvam para roubar-lhe
tempo à cadeia e aturar com firmeza umha condena longa. Há duas atitudes,
porém, que sempre estám presentes na rotina de todo preso político: a
disciplina e a paciência. Com elas podemos encarar adversidades e afrontar umha
luita de tam longo percorrido como a que escolhemos.
Como
relacionarias as luitas de hoje em dia com a História mais recente da Galiza?
Quiçá
tenhamos que ir a tempos mais recuados para entendermo-nos a nós mesmas:
fazemos parte dumha empresa colectiva que tem mais de 150 anos de vida, que
começou em pequenos gromos activistas-intelectuais para encarnar-se mais
adiante num Movimento Popular em favor dos direitos nacionais galegos. É sabido
que, polo menos, nos últimos 50 anos, este propósito de afirmaçom nacional já
se vencelha explícita e indefectivelmente com umha vontade de transformaçom
radical da sociedade num sentido de esquerdas. Somos filhos dessa longa
tradiçom.
Também é
centenária a cerraçom espanhola, a determinaçom por negar os direitos nacionais
e sociais baixo diferenes regimes políticos. Por isso o arredismo, desde as
suas origens, negou-se a aceitar as regras de jogo do poder espanhol e
manifestou a legitimidade de todas as formas de luita. Na preguerra isto está
presente no independentismo de além mar e nas mocidades nacionalistas, mas a
fraqueza política nom permite ir mais lá das declaraçons de intençons. É nos
últimos quarenta anos quando o Movimento adquire uma certa dimensom popular,
quando a prática de ultrapassar a legalidade espanhola motiva umha severa
resposta repressiva. Eis a existência de presos e presas políticas
Algo mais
para engadir
O meu
agradecimento e reconhecimento a todas aquelas pessoas que racham os muros da
dispersom com o carteiro ou com tremendas viagens, roubando tempo ao sono e ao
lazer.
Agradecimento
e reconhecimento que cumpre extender a aqueles que, desde a afinidade ou a
divergência política, luitam polos nossos direitos exponhendo-se às moléstias e
entraves repressivos que todas conhecemos.
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